domingo, 8 de janeiro de 2023

Albrecht/d. - Endless Music (1974)

 


Dietrich Albrecht poderia ter sido só mais um bancário chato se não tivesse abandonado esse primeiro emprego, dedicando-se às artes. No plural, já que a sua obra e os seus interesses abarcam vários campos artísticos. Criou contactos com os artistas do Fluxus, esteve envolvido em mail art, mudou de nome para Albrecht/d. numa espécie de homenagem a Albrecht Dürer e, aquilo que - pessoalmente falando - mais importa, lançou uns quantos discos, colaborando com gente como Joseph Beuys (perguntem aos vossos amigos de belas-artes) e os Throbbing Gristle (perguntem aos vossos amigos drogados).

"Endless Music" talvez seja o mais conhecido desses trabalhos musicais, ainda que "conhecido" seja uma palavra muito forte para algo tão de nicho, e que ao longo da sua carreira conheceu várias encarnações e edições. Mas que não se pense em "Endless Music" como "música infinita", conforme o próprio explicou em 1988: essa é uma expressão que vai mais de encontro a um religioso nirvana do que outra coisa, inspirado pelo seu apreço pela música de Bali (não se podia ser vanguardista nos anos 60/70/80 sem se gostar de "música de Bali", que é o equivalente pretensioso do mui palonço "não podes gostar de hip-hop tuga sem gostares de Sam The Kid").

A música é sobretudo repetitiva, algo que Albrecht, antes de falecer, explicou fazer «parte da base da improvisação» (isto se o Google Translate estiver correcto). Dividido em seis peças, "Endless Music", na sua versão de 1974, soa a um encontro fortuito entre um homem das obras e um monge tibetano, o ritmo hipnótico a ceder terreno a solos de uma corda só e a ocasionais delírios vocais (feminino e operático e feminino e gritaria). E se essa descrição parecer absolutamente horrenda, é só falha do seu intérprete: "Endless Music" é na verdade bastante interessante e uma inclusão digna na lista de discos de todos os que gostam de música estranha.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Damo Suzuki (1950-2024)

  Ain't got no time for western medicine / I am Damo Suzuki , cantava Mark E. Smith na bonita homenagem que os seus The Fall fizeram ao...